terça-feira, 11 de agosto de 2009

Felizes os medíocres!

 

Felizes os medíocres! Que se contentam com a vidinha. Que são felizes com a sua rotina, com seus maridos e esposas de 30 anos e o trabalho como funcionário público do qual estão prestes a se aposentar. Eles adoram a segurança de saber como será o dia. Fazem lista de seus afazeres desisteressantes. Limitam-se a fazer os programas mais sem graça possível e adoram isso. Se divertem de verdade com o piquenique no parque da cidade ou com o passeio no zoológico. Eles são realmente felizes!

Já os outros sofrem. Principalmente se são obrigados a conviver com toda essa mediocridade. E eles invejam os medíocres, de sua felicidade inocente e real. Da sua total falta de sonhos grandes e impossíveis, dos seus questionamentos intermináveis, dos seus anseios petulantes.

Uma vez aprendi na faculdade sobre fruição, que cada pessoa é capaz de interpretar o que quiser diante de uma obra de arte, um quadro, um livro, uma música ou um filme. Tudo depende de sua bagagem cultural, sua intuição, sua história, misturado aos sentimentos e pensamentos daquele exato momento que está ‘apreciando’ a obra. Às vezes o fruidor vê algo totalmente diferente do que o próprio autor da obra quis mostrar.

Eu estou dizendo tudo isso porque hoje assisti “La Dolce Vitta”, de Fellini. Estupendo! Não sei se em outro momento da minha vida eu teria entendido ou sentido algo diferente. Para o autor de “O clube do filme”, o ator principal, Marcello, toma decisões erradas na sua vida e praticamente a estraga. Não vi assim. Para mim, Marcello tem medo de se tornar um comum, de levar uma vida certinha, com esposa, casa e filhos, ao mesmo tempo em que sente inveja de um amigo que tem tudo isso. Assim, ele mantem-se perto e se afasta de Ema, sua noiva, numa relação bastante conturbada. É uma luta interna e eterna. Viver uma vida fútil e excitante ou se enterrar numa vidinha perfeitinha? Seguir ou não o inesperado conselho de seu amigo ‘certinho’: “é melhor viver uma vida miserável a viver uma vida cheia de burocracia e paredes”?

Dúvidas e mais dúvidas!

Um comentário:

Aina Kaorner disse...

Concordo com seu título, Márcia! O início do seu texto me fez lembrar a música "Ouro de Tolo" de Raul Seixas.