quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eu sou estranha

Pensei em escrever no Twitter sobre isso, mas sou prolixa demais e o número máximo de caracteres permitidos não seriam suficientes.

Dia desses na aula de inglês fizemos um teste sobre inteligências (isso mesmo, no plural). Era algo bem diferente do habitual teste de QI, que se limita a dizer se você é inteligente ou não. Esse teste mostra que tipos de inteligências você possui e como usá-las para o aprendizado.

Qual não foi minha surpresa ao constatar que eu possuo duas inteligências completamente distintas e opostas: a interpessoal e intrapessoal.

Ou seja, eu gosto de trabalhar em grupo e sozinha, participo e não participo ativamente de discussões em classe, vivo no meu mundo, me conheço bem e sei o que quero e ao mesmo tempo adoro festas e tenho vários amigos com quem converso bastante.

(Não sou eu que estou dizendo isso, é o resultado do teste, ok?)

Uma colega virou pra mim e disse: Você é estranha!

Fui embora com aquilo na cabeça. ESTRANHA, EU? IMAGINA… (em tom de sarcasmo). E mais uma vez tive a prova que sou completamente contraditória. Não no sentido de agir de forma contraditória, do tipo ‘façam o que eu falo mas não façam o que eu faço’, mas sim de viver numa montanha russa louca, de ter dias que eu quero voar e dias que não quero ver ninguém. (Calma, não sou bipolar não, só estranha mesmo… hehehe). Vai entender…

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Felizes os medíocres!

 

Felizes os medíocres! Que se contentam com a vidinha. Que são felizes com a sua rotina, com seus maridos e esposas de 30 anos e o trabalho como funcionário público do qual estão prestes a se aposentar. Eles adoram a segurança de saber como será o dia. Fazem lista de seus afazeres desisteressantes. Limitam-se a fazer os programas mais sem graça possível e adoram isso. Se divertem de verdade com o piquenique no parque da cidade ou com o passeio no zoológico. Eles são realmente felizes!

Já os outros sofrem. Principalmente se são obrigados a conviver com toda essa mediocridade. E eles invejam os medíocres, de sua felicidade inocente e real. Da sua total falta de sonhos grandes e impossíveis, dos seus questionamentos intermináveis, dos seus anseios petulantes.

Uma vez aprendi na faculdade sobre fruição, que cada pessoa é capaz de interpretar o que quiser diante de uma obra de arte, um quadro, um livro, uma música ou um filme. Tudo depende de sua bagagem cultural, sua intuição, sua história, misturado aos sentimentos e pensamentos daquele exato momento que está ‘apreciando’ a obra. Às vezes o fruidor vê algo totalmente diferente do que o próprio autor da obra quis mostrar.

Eu estou dizendo tudo isso porque hoje assisti “La Dolce Vitta”, de Fellini. Estupendo! Não sei se em outro momento da minha vida eu teria entendido ou sentido algo diferente. Para o autor de “O clube do filme”, o ator principal, Marcello, toma decisões erradas na sua vida e praticamente a estraga. Não vi assim. Para mim, Marcello tem medo de se tornar um comum, de levar uma vida certinha, com esposa, casa e filhos, ao mesmo tempo em que sente inveja de um amigo que tem tudo isso. Assim, ele mantem-se perto e se afasta de Ema, sua noiva, numa relação bastante conturbada. É uma luta interna e eterna. Viver uma vida fútil e excitante ou se enterrar numa vidinha perfeitinha? Seguir ou não o inesperado conselho de seu amigo ‘certinho’: “é melhor viver uma vida miserável a viver uma vida cheia de burocracia e paredes”?

Dúvidas e mais dúvidas!

sábado, 1 de agosto de 2009

Marinheira de primeira viagem

buena

Depois de um dia conturbado pela chuva, que alagou ruas e deixou o trânsito ainda mais caótico na capital baiana, minha editora me liga para passar uma pauta. Ela me dá poucos detalhes, apenas que eu faria a cobertura para a Revista Yatch da chegada do Navio Veleiro Cisne Branco, da Marinha Brasileira, que atracaria em Salvador no dia seguinte, às 7h da manhã. Até então, minha experiência náutica se resumia a passeios de escunas e jacarés em ondas na beira da praia.

Na manhã seguinte, acordo para a matéria e vejo que as chuvas do dia anterior não tinham parado. O céu estava ainda mais cinza e os ventos mais fortes. Bom, penso comigo, começou a minha aventura!

E não me arrependi nem um pouco. Foi uma experiência única, a começar pela chegada até o navio. Uma lancha da Marinha nos pegou na Capitania dos Portos para nos levar até o veleiro que aguardava a minha chegada para prosseguir com a atracação. No meio do caminho, porém, o motor esquentou muito e tivemos que parar para que outra lancha viesse nos resgatar. Ficamos mais de dez minutos a deriva na Baía de Todos os Santos com o mar se mexendo muito. Olhar para o horizonte e torcer para que o “resgate” chegasse logo era tudo que eu podia fazer.

Devidamente salvos, continuamos. Da lancha já dava para avistar o Navio. Parecia coisa de filme! Todo branco e imponente, com a bandeira do Brasil em destaque e seus três mastros e muitas velas (infelizmente fechadas). Me senti próxima a uma caravela dos tempos de Cabral.

Passado o deslumbre, uma nova dificuldade foi tentar deixar a nossa lancha o mais próxima possível para que pudéssemos subir no navio. O mar permanecia muito agitado. Foi um sufoco, tanto que foi necessário dar uma volta em torno do navio. O primeiro a subir foi o fotógrafo, depois eu. Até que foi fácil. Acho que não pensei muito, simplesmente fui, com a cara e a coragem. Uma das tripulantes da lancha não conseguiu e voltou para a Capitania dos Portos de lancha mesmo. Por último, subiu o Capitão de Fragata Eron Gantois Marçal, que me acompanhou em toda a visitação.

Já a bordo, fui recebida (muito bem recebida, por sinal) pelo Comandante do Cisne Branco, o Capitão de Mar e Guerra Flávio Soares Ferreira. Ele me conta que o Navio Veleiro tem duas tarefas principais. A primeira é representar a Marinha do Brasil em grandes eventos náuticos, tanto nacionais quanto internacionais, e levar a tradição e cultura brasileiras. A outra é ajudar a formar o jovem pela arte de velejar, permitindo que alunos, tanto da Escola Naval como universitários e estudantes do ensino médio, embarquem no Veleiro. Ele também explica que o Navio zarpou do Rio de Janeiro em 30 de abril para uma viagem de instrução e representação pela América do Norte e Europa, sendo sua primeira parada o Porto de Salvador. O Navio deve passar por outros 16 portos até voltar ao Rio de Janeiro em 28 de outubro.

Logo, o comandante é chamado para iniciar a navegação e outro oficial fica responsável em me mostrar o Navio. Com muito didatismo e paciência, ele vai me ‘apresentando’ o Cisne Branco. Ele me mostra primeiramente a parte externa do navio, explicando onde é a proa, a popa, o convés, o tombadilho, a sala de comando, entre outras características e curiosidades. Também diz que o navio possui cerca de 18 km de ‘cabos’ (Nunca diga ‘corda’ para um marinheiro, ele não vai entender!). Depois me mostra toda a parte interna, onde ficam os quartos, a cozinha, a enfermaria, a ‘sala de estar’ dos oficiais e demais aposentos que acomodam os 76 tripulantes. Ele me apresenta também um espaço reservado à réplica da Nossa Senhora da Boa Esperança, a Santa dada a Pedro Álvares Cabral quando ele embarcou para o Brasil. O curioso é que essa réplica foi feita pelos descendentes dos mesmos artesãos que fizeram a original, em Portugal.

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O dia ainda está chuvoso, mas dá uma trégua quando estamos quase chegando ao Porto de Salvador. O Comandante, então, vai pessoalmente cuidar da atracação do Navio, dando todas as coordenadas para que tudo ocorra da melhor forma possível. Nesse momento, todos os tripulantes vão ao convés, em uma mostra que aquela é uma visita cordial.

Ao atracar no Porto, o Comandante recebe o Chefe Militar do 2° Distrito Naval da Marinha, o Vice-Almirante Arnon Lima Barbosa, e o Capitão dos Portos da Bahia, Moniz de Aragão. A bordo, todos se reúnem na aconchegante ‘sala de estar’ dos oficiais para uma confraternização. Lá, o Comandante Flávio me diz que voltar a capital baiana é sempre uma excelente oportunidade para rever alguns colegas da Marinha, já que serviu em Salvador em 87, 88 e 89. Ele conta, inclusive, que sua filha nasceu em terras soteropolitanas, o que o deixa muito orgulhoso.

Mas se você pensa que tudo acabou por aí, enganou-se. Para fechar com chave de ouro essa minha aventura marítima, na noite seguinte houve uma festa no Navio, onde foram servidos peixes, frutos do mar e comida típica baiana, com música brasileira de excelente qualidade (a banda é composta por tripulantes do Cisne Branco) e convidados ilustres, entre os quais o Comodoro Marcelo Kruschewsky e alguns diretores do Yacht, que foram prestigiar a passagem do Navio Veleiro Cisne Branco pelo Porto de Salvador. Também ouço comentários de que a cantora Margareth Menezes estaria a bordo, mas na parte interna da embarcação, onde somente os altos oficiais têm acesso.

Durante a festa, mais uma história interessante contada pelo Comandante Flávio, como sempre muito simpático e atencioso. Perguntado se o Navio chegava a velejar apenas com as velas, ele diz que sempre que o vento está favorável, ele opta por esse sistema. “É muito mais gostoso de velejar”, diz.

Mesmo tendo ‘velejado’ apenas por pouco tempo, me considero uma pessoa privilegiada por ter tido a oportunidade de estar no Navio Veleiro da Marinha do Brasil Cisne Branco no dia 7 de maio. Já me disseram que a próxima matéria será num submarino! A conferir.

Histórias e curiosidades

  • Com sua silhueta inspirada na dos “Clippers” do século XIX, o Cisne Branco foi construído em 1998 em Amsterdã, Holanda, e entregue em 4 de fevereiro de 2000. No Rio Tejo, foi incorporado à Marinha do Brasil a 9 de março do mesmo ano, exatamente 500 anos após a partida de Pedro Álvares Cabral.
  • O Cisne Branco foi construído baseado na idéia de que tivesse todos os sistemas de tecnologia avançada, realizando, porém, todas as manobras de convés e vela exatamente como ocorriam no século XIX, mantendo assim as mais antigas tradições da marinharia.
  • Em 2000, o Navio participou das comemorações relativas aos 500 anos de Descobrimento do Brasil, realizando a travessia do Oceano Atlântico exatamente como Pedro Álvares Cabral havia feito.
  • Uma moeda de 100 Réis cunhada em 1939 com a imagem do Almirante Tamandaré, patrono da Marinha do Brasil, foi assentada na base do mastro principal durante sua construção. Essa tradição naval tem sua origem em uma antiga lenda grega, na qual a moeda serviria para o pagamento da figura mitológica encarregada de realizar o transporte das almas dos tripulantes para o paraíso.

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(Matéria publicada na Revista Yacht de Maio/09)