quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Reportagens antigas...

Vou começar a fazer o que já deveria ter feito há muito tempo: postar aqui no meu blog as minhas matérias mais legais...
Quem tiver interesse (e um pouquinho de paciência... rs), fique à vontade!!!!
Para começar, uma matéria sobre comportamento publicada na edição de novembro da Revista Yatch.

Ter ou não ter, eis a questão

Pesquisa revela o crescimento do número de casais que optam por não ter filhos


“Não ter filhos é ter inteligência”, defende a médica Angela Sampaio, 47 anos. Embora pareça exagero e até mesmo uma opinião polêmica, ela explica que esse pensamento não se encaixa a todo mundo, apenas àqueles que realmente não querem ter filhos e assumem essa postura. Angela, que já foi casada duas vezes e atualmente namora um inglês, conta que tomou essa decisão desde criança, pois sempre quis se dedicar aos estudos. “Fiz um acordo com Deus e pedi dispensa a Ele do papel de mãe. Até acho que existem pessoas que conseguem conciliar a maternidade com outras atividades, mas certamente é muito mais difícil e demorado e eu não queria isso para mim”, explica.

A bancária Renata Vergili, 40, também optou por não ser mãe. Casada há 18 anos, ela conta nunca teve vontade de ter filhos. “Sempre tive família grande, muita gente, e gosto da minha liberdade. Meu marido tem dois filhos do primeiro casamento e me deixou bem à vontade quanto a minha decisão”, diz.

Para o funcionário público João Marcos Nogueira Pereira, 34 anos, casado há mais de cinco anos com Neila, 33, a decisão surgiu naturalmente ainda durante o namoro. “Foi algo sem brigas ou tentativas de convencimento de uma das partes. Eu não consigo me imaginar como pai, da mesma forma que minha esposa não consegue se imaginar como mãe”, conta.

Esses três personagens fazem parte do crescente número de pessoas que, mesmo sem ter detectado nenhum problema para engravidar, optam por não procriar. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, de 1997 para 2007, a porcentagem de casais sem filhos em relação ao total dos arranjos familiares cresceu de 12,9% para 16%. Os dados apontam ainda para a diminuição no número de casais que optam por ter filhos. Em 1997, cerca de 56% dos arranjos familiares tinham filhos. Em 2007, esse número passou para cerca de 48%.

Embora os dados não permitam separar os casais que não podem ter filhos daqueles que não querem, os especialistas garantem que esse último grupo é uma tendência.

Para o médico psicoterapeuta (analista transacional) e educador Antonio Pedreira, que atende casais há 30 anos em seu consultório, as razões são as mais diversas (veja Box). “Há desde aqueles que se acostumam com a ‘solteirice’ até outros que são viciados em drogas e não querem abrir mão do vício”, conta. Ele conta, inclusive, que há as abortadoras em série, que são aquelas mulheres que não tomam o devido cuidado e depois pagam para ‘resolver o problema’.

No caso de Angela, a vontade de se dedicar aos estudos e a sede por conhecimento a fez tomar essa decisão. “Hoje além de continuar estudando bastante, assuntos médicos e de autoconhecimento, surfo, emprego bem o meu tempo, sinto-me útil às pessoas e acabei de terminar o meu primeiro livro, que para mim é meu filhão”, diz empolgada.

Para Renata, desde que soube que era mulher e que poderia ser mãe descobriu que não era ‘sua praia’. “Sempre trabalhei muito e acho que filhos é uma opção de vida muito séria, tipo que ou você é mãe ou não”, afirma. É a mesma opinião de João Marcos e sua esposa. “Um filho exigiria um nível de dedicação e comprometimento que nós não poderíamos dar, já que ambos trabalhamos fora. Se for para ter um filho e deixá-lo nas mãos de uma babá ou numa creche, é melhor nem tê-lo”, critica. Segundo João Marcos, a motivação econômica também pesa, ainda que em menor grau. “Criar um filho hoje é uma tarefa que demanda além de tempo, muito dinheiro. E as coisas não estão fáceis hoje em dia. Se colocarmos na ponta do lápis as despesas que um filho gera, fica fácil entender porque se deve pensar muito antes de se decidir em tê-lo”, completa.

Arbítrio e Preconceito

Para Angela, apesar de haver cobrança em relação aos casais sem filhos, hoje há mais liberdade de escolha. "Atualmente está mais comum as pessoas escolherem não ter filhos do que quando eu me casei há muito tempo”. Nas gerações passadas, o filho fazia parte do 'pacote' do casamento. “Se o casal não tinha, a primeira coisa que pensavam era que um dos dois tinha algum problema. E mesmo eu dizendo que era uma decisão minha e era muito feliz por isso, eu percebia o olhar de desconfiança dos outros”, relata. Renata diz que não liga muito para a opinião dos outros e nunca percebeu o preconceito. “Se sofri não dei muita bola ou não prestei atenção, pois não ter filhos é uma opção minha, então porque sofrer, certo?”

João Marcos conta que o casal ainda não sofreu nenhum tipo de preconceito aberto. “Talvez pelo fato de poucas pessoas saberem de nossa decisão. Algumas pessoas com quem convivemos às vezes perguntam, em tom de brincadeira, quando virá o herdeiro. ‘Só quando as galinhas criarem dentes’, costumo responder”, afirma com bom humor. Ele explica que quando as perguntas têm um tom mais formal, desconversa ou diz que ainda é muito cedo. “Para algumas (poucas) pessoas, abrimos o jogo. O que me irrita, às vezes, é quando perguntam à minha mãe quando ela terá netos, como que se ela tivesse alguma coisa a ver com o assunto. Pelo menos, sabiamente ela sempre responde: ‘Não sei, pergunte aos dois’", diz indignado.

Para o dr. Pedreira, o preconceito ainda existe, principalmente nas cidades do interior. “É a cobrança do que eu chamo de ‘pai social’, uma entidade invisível que representa a sociedade em geral, que está sempre julgando os outros e faz uma censura difusa”, esclarece. Ele também explica que o peso da tradição ainda é muito forte. “Algumas pessoas têm filhos sem se questionar se é realmente isso que querem. O fazem só porque foi instituído que um casal deve ter herdeiros. Mas a maternidade ou paternidade deve ser uma escolha patenteada numa vocação, um chamamento interior”, defendo o médico.

Mas e o medo de se arrepender depois? Os três personagens afirmam com veemência que não têm esse receio. “O risco de arrependimento é intrínseco em qualquer grande decisão que tomamos em nossas vidas. Há muitos casais com filhos, que se pudessem voltar atrás, optariam por não tê-los ou tê-los em menor quantidade. Não pretendemos mudar de idéia. Até porque já fiz vasectomia (em 2004) e a cada dia que passa ficamos mais convictos de quão acertada foi a nossa decisão”, conta João Marcos. Para Angela, não há como se arrepender de uma decisão tão acertada. “Sou muito feliz, faço tudo o que quero e não sinto falta de ter filhos”, afirma.

Segundo dr. Pedreira, é comum casais que se arrependem de não ter tido filhos. Quando isso ocorre, há as opções de adoção e, no caso do homem, de procurar uma mulher que deseje e tenha a possibilidade de gerar um filho.

10 razões apontadas como motivações para não ter filhos, segundo o dr. Pedreira:

  • - Curtir a vida como se fosse solteiro(a), sem compromissos e sem horários;
  • - Um dos dois tem algum trauma, geralmente a mulher (pode ser a irmã que tem vários filhos e vive reclamando da vida);
  • - Casal altamente preocupado com o futuro do mundo, geralmente tem uma visão apocalíptica, pessimista. Tem consciência ecológica, fundamentalista (da perseguição de um mundo perfeito);
  • - Segunda ou terceira união e um dos cônjuges já possui filhos, tirando a responsabilidade do outro;
  • Não querer correr o risco de gerar uma criança com ‘defeito’, pois acima dos 35 anos a probabilidade de ter um filho excepcional é de 1%, e acima dos 40, é de 3 a 5%;
  • - Presença de cardiopatia na mulher, o que gera um risco muito grande durante a gestação;
  • - Motivos econômicos. O casal não quer ter essa despesa (um filho custa, até os 18 anos, um apartamento de luxo com quatro suítes) ou tem dificuldades financeiras, já mora de favor, por exemplo;
  • - Falta de vocação para ser mãe, que induz o homem a não querer ter um filho mal assistido;
  • Presença de estigmas de doenças mentais, com histórico de doenças genéticas na família, como esquizofrenia ou transtorno bipolar;
  • - Conjunto de fatores: trabalho e estudo, já que um filho pode prejudicar na hora de ganhar uma bolsa ou uma transferência ou promoção; usuários de drogas que não querem abrir mão do vício por um filho.

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